terça-feira, 6 de julho de 2010
REFLEXÕES SOBRE A INFIDELIDADE: UM OLHAR LITERÁRIO
sexta-feira, 25 de junho de 2010
VINGANÇA: UM PRATO QUE SE COME FRIO, QUENTE, TEMPERADO, MAS SEM SALSINHA, POR FAVOR!
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Escritores da Liberdade - Análise
Sou avesso a filmes com esta temática. Ora minimizam os problemas encontrados pelo professor em sala de aula, ora utilizam clichês manjados que os remetem a um campo de batalha. Mas, desta vez, dou o braço a torcer: "Escritores da liberdade" conseguiu a proeza de me cativar o espírito, a ponto de eu me debulhar em lágrimas em vários trechos da história. Ainda bem que as luzes da sala de vídeo estavam apagadas.
É preciso praticar o exercício da empatia e colocar-se no lugar da professora "Erin". Ao analisar a sua trajetória no decorrer do filme, lembrei de uma frase célebre do cantor e compositor “Raul Seixas” que diz: “Sonho que se sonha só é apenas um sonho; um sonho que se sonha junto é realidade". Os pesadelos de "Erin" surgiram à medida que precisou resistir à rejeição dos alunos, sentiu a descrença do corpo docente em relação ao seu trabalho e enfrentou o fim de seu malfadado casamento. Em princípio, ninguém quis viver o sonho. Tornou-se conveniente criticá-la, desencorajá-la ou acusá-la de contraventora. Não sei dizer se serei um mártir, disposto a sacrificar a minha vida pessoal, bater de frente com meus superiores ou me expor à violência nos guetos dos grandes centros urbanos. Contudo, dentro de minhas possibilidades, farei o que estiver ao meu alcance para desempenhar satisfatoriamente o meu papel de educador. Consciente da importância social que isso implica. Por mais piegas que seja a frase, sim: "ensinar é um ato de amor". Amor ao próximo, amor à educação e a si próprio. Professor, na verdadeira acepção da palavra, não se deixa desmotivar pelo valor impresso em seu holerite. Lida com as agruras do dia-a-dia com galhardia, utilizando de maneira criativa os poucos recursos didáticos que tem em mãos. Se optou pela educação deveria supor que não há como enriquecer através dela.
Desde tenra idade quero lecionar Língua Portuguesa. Começar o curso de Letras na USC foi o primeiro passo na realização deste sonho. Não sou ingênuo a ponto de acreditar que a minha prática pedagógica será pautada apenas pelo êxito. Encontrarei os mesmos obstáculos que a personagem do filme. O principal deles talvez seja o desinteresse dos alunos, o que tolhe a motivação de qualquer professor, por melhor que seja o profissional.
São vários os aspectos interessantes do filme. Vamos a eles!
É preciso partir do pressuposto de que a violência retratada está distante da realidade brasileira. Embora, permanecer indiferente à responsabilidade de ensinar seja tão cruel quanto apontar uma arma. Covardia da brava!
Se os professores soubessem da importância da Literatura no processo de aprendizagem de seus alunos, atingiriam com maior rapidez os objetivos das disciplinas ministradas. "Erin" inseriu os livros no cotidiano de sua turma de maneira perspicaz. Partiu da realidade, incitando-os a ler uma obra situada dentro do contexto da violência e logo após passou aos clássicos da literatura universal. Cultivou-se o hábito da leitura e seu refinamento. Teorias do DCN apresentadas na aula de "Metodologia da Língua Portuguesa" defendem essa idéia.
Usou como pano de fundo a história de vida dos educandos para despertar-lhes o gosto pela escrita. Os cadernos que narram as agruras da vida de cada um é o exemplo de que escrever é uma válvula de escape, capaz de transformar a tristeza em momentos de reflexão. Assim que ingressei no curso de Letras criei um BLOG e o utilizo para discutir questões literárias, escrever contos, crônicas, sátiras bem humoradas e falar “abobrinhas” (www.mundodasletras-vinigupi.blogspost.com). Em sala de aula, pretendo utilizar esta ferramenta com meus alunos. Extrair deles a capacidade criadora manifestada através da palavra escrita.
Não quero ser um blefe. Tento me esmerar em minha formação para desempenhar de maneira honesta a missão que me será incumbida. Mas reconheço que a bagagem teórica da universidade não me dá todos os subsídios para ser um bom professor. Penso que a sensibilidade é um dos requisitos indispensáveis ao magistério. Isso tenho! Embora precise saber quais serão os meus limites na relação diária com meus alunos. A minha principal virtude é a paciência. É um bom começo!
O filme me conquistou!
A minha vida mudou assim que me apaixonei por Literatura.
Quero agradecer aos meus amigos do curso de Letras por caminharem ao meu lado nesta jornada e, em especial, à professora Marilete que não se manteve em seu pedestal como muitos docentes e tornou-se acessível a todos os alunos. Os comentários que fez em meus seminários apenas enalteceram a apresentação.
Obrigado!
"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda." (Paulo Freire)
quarta-feira, 12 de maio de 2010
TRISTE ADEUS DE UMA ALMA IMPURA
domingo, 20 de setembro de 2009
UMA PERFEITA SINTONIA
I
Fiz a escolha certa? – indagava-se, Elisa. Parecia distante, absorta em pensamentos que lhe cingiam o semblante de uma sombria expressão de desalento. Experimentava o vestido de noiva, com a costureira ao pé de si a dar ainda em seu corpo os últimos retoques. Um modelo exclusivo feito pelo mais badalado estilista de São Paulo. O espelho lhe dizia sorrindo que estava deslumbrante, mas sentia-se indiferente à própria beleza, como se aquela mulher refletida estivesse vivendo uma vida que não lhe pertencesse. A efusão da mãe despertou-a de seus devaneios. – Oh, minha filha! – gracejou Madalena, boquiaberta. – O vestido lhe caiu perfeitamente bem. Não que fosse dada a luxos, mas o noivo fizera questão de que tudo saísse conforme ela sempre sonhara.
A escolha do vestido de noiva, igreja, carruagem, padrinhos, convidados, buffet, foram meticulosamente organizados pela mãe e a sogra, cúmplices na emoção de verem o enlace dos filhos como uma inevitável promessa de felicidade. A primeira, por estar casando o seu “bibelot” com um dos jovens mais ricos da cidade, cortejado por todas as mulheres da high-society e futuro herdeiro das organizações Atlanta, a maior empresa do ramo imobiliário da região. A outra, por enxergar em Elisa a esposa ideal para por fim aos hábitos desregrados de Lucas, há pouco tempo, amante da boemia, ociosidade e promiscuidade masculina. A moça tinha predicados que a tornavam a ‘menina dos olhos” de toda sogra que deseja ao filho um casamento sem sobressaltos. Tereza via em sua futura nora uma altivez pouco comum em mulheres tão jovens. Não era submissa como as que amam exageradamente e sabia fazer valer as suas vontades, sem ferir o orgulho alheio e sem perder, através de sua imperceptível intransigência, toda a doçura que lhe pontuava a personalidade. De uma beleza ímpar, seria a esposa perfeita para um rapaz que precisava de uma mulher de pulso firme, embora carinhosa, compreensiva e amiga.
- Tereza, querida, o seu filho é um homem de muita sorte. – comentou Madalena, exultante, olhos vidrados em Elisa que agora experimentava os sapatos. – Duvido que encontre alguém como a minha menina. Uma moça distinta, educada e inteligente. O porte elegante é da avó. Os olhos de um castanho esverdeado puxou do pai. Ele tinha um olhar tão penetrante.
- Mãe, pelo amor de Deus! – interrompeu Elisa, enrubescida. – Não sou a soberana do principado de Mônaco que a senhora está pintando e pare de enumerar atributos que não tenho. O que vai pensar dona Tereza desse seu falatório?
- Não se preocupe, meu bem – advertiu Tereza, achando graça no carinho desmedido de Madalena pela filha. - Sua mãe não está exagerando. Você, realmente, é mais do que eu poderia sonhar para o meu Lucas. Mas ela há de concordar comigo que o meu filho também é um bom partido.
- Sim, esse casamento é do meu agrado. Já tenho o Lu como da família. Um cavalheiro, um rapaz garboso, cheio de vida. É uma pena que...
- Mãe! – ralhou Elisa, perdendo a paciência!
- Só ia dizer que ele não tem tino para os negócios do pai – retorquiu Madalena, contrariada.
- Isso não é da sua conta – atalhou Elisa, irritada. – O Lucas não deseja seguir os passos do pai e não quero que a senhora seja inconveniente manifestando publicamente as suas opiniões sobre assuntos que não lhe dizem respeito. – Perdão, Tereza. Ela, às vezes, fala sem atinar no que está falando.
- Madalena está certa. – concordou Tereza. - O Rômulo insiste para que o menino tome o seu lugar na companhia, mas ele se esquiva da responsabilidade de estar à frente dos negócios da família. – Nisso, conto com a sua ajuda, minha nora. Espero que depois de casados, consiga convencê-lo a pensar sobre a possibilidade de suceder o pai.
- Não sei, Tereza. Ele não me parece animado com a idéia. E para ser sincera, não acho que o Rômulo deveria insistir.
- Elisa, minha flor de Liz! Levante-se! Deixe-me vê-la – ordenou Madalena com os olhos marejados e sem se importar com a admoestação da filha, perita na arte de chamar-lhe a atenção para suas gafes nos círculos sociais. - Será a noiva mais esplendorosa que já existiu nesse mundo.
Olhou-se ao espelho mais uma vez. Às vésperas do casamento de seus sonhos, uma sensação desagradável a assaltara: não seria feliz. Esses pensamentos bailavam em sua cabeça, questionando a resolução deste passo, que seria um dos mais importantes de sua vida. A coroação de uma relação permeada de idas e vindas, ciúme, brigas e traições. Lucas a amava e dera inúmeras provas de seu incomensurável amor. Mas ela não estava segura de seus próprios sentimentos. Como poderia se casar com um homem que não a completava como mulher, que não mais a fazia sentir o friozinho na barriga todas as vezes em que a elogiava e se sentia obrigada a dizer que estava indisposta, rejeitando todos os convites dele de viagem ao litoral nos finais de semana? Ele não lhe dava mais o tesão dos primeiros encontros. E sentiu-se uma vagabunda ao constatar a última de suas insatisfações.
A empregada entrou esbaforida no quarto de Elisa, abrindo mão das convenções, gritando:
- Dona Elisa! Seu Lucas acabou de chegar!
- Rápido, Tereza! – interveio Madalena. – Ele não pode vê-la vestida assim. Dá azar. Vamos descer e mantê-lo ocupado, até que Elisa tire o vestido e os outros apetrechos. Oh, meu Deus, onde está a grinalda?
- Dentro da caixa menor, em cima da cama – respondeu Tereza, ao dar a ultima olhada na noiva majestosa que tinha diante dos olhos. – É uma linda mulher e sei que será uma boa esposa e uma mãe dedicada. O meu filho precisa de você.
Em seguida saiu, puxando Madalena e a velha costureira pelo braço.
- Não demore, filha. O seu noivo é tão afoito, que não vai querer esperar até o casamento para vê-la vestida de noiva.
- Desço num minuto, mãe. – respondeu Elisa, ansiosa para tirar a roupa que lhe pesava na alma. De repente, desejou que o chão se abrisse e pudesse desaparecer para todo o sempre. Como foi tola ao aceitar o pedido de casamento de Lucas. A última das infantilidades do rapaz, que nem de longe, sabia quais eram as implicações de uma vida a dois. Não tinham muitas coisas em comum
O celular tocou. Abriu a bolsa sobre a cômoda e ao verificar no visor do aparelho quem lhe queria falar, assustou-se.
- Eu já lhe disse mais de mil vezes para não me ligar – falou nervosa ao telefone, tentando abafar a voz.
A pessoa do outro lado da linha foi categórica:
- Você não pode se casar, Elisa! Você não o ama! E sei que está grávida de um filho meu.
**CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Um dia, um adeus...
Tanto se fala na brevidade da vida, que tenho medo de não realizar em tempo todos os meus sonhos. Isso se torna um irresistível pressuposto para, às vezes, jogar tudo para o alto e seguir apenas a voz do coração. Sempre ouço dos mais velhos: “Aproveite a vida!”. E os que me aconselham a tal ato de coragem, parecem afundados em frustração, desgostosos com o fim da jornada, quase sempre pontuada pelas escolhas erradas. O tempo é cruel e o verso daquela bonita canção não me sai da cabeça: “A gente não nasce, começa a morrer...”.
A minha condição de humano me dá o direito de errar. Eu menti, traí, fui traído, senti inveja, amei e (odiei), desejei o mal, desejei o bem, fui aplaudido, vaiado, humilhado, perdoei, implorei o perdão, ri, chorei. E depois de experimentar essa miscelânea de ações e reações, percebi que delas tirei algum proveito, pois triste é envelhecer e não ter direito ao seu quinhão de sabedoria.
O meu pai faleceu em 2004. Os meus olhos ardem sempre que me lembro do caixão sendo fechado.
... assim é a vida.
sábado, 12 de setembro de 2009
Há tempos não escrevia uma crônica. Apesar de gostar desta modalidade textual, tenho me dedicado à ficção, que me “rouba” toda a disposição mental, criatividade e vigor físico. As manhãs de sábado costumam ser tão aprazíveis, que preferi não me debruçar sobre um novo conto, mas redigir um texto leve, antenado à realidade que me rodeia e, evidentemente, de mãos dadas com o bom humor.
Eu me cadastrei no “Twitter”, a nova sensação da internet. É uma ferramenta assaz interessante que dinamiza a relação interpessoal na rede mundial de computadores. Descobri entre os membros, o prefeito do município de Bauru, Rodrigo Agostinho (http://twitter.com/rodrigoprefeito) e verifiquei o quão atribulada é a sua agenda. Lá, ele nos conta em tempo real o que está fazendo. Frases como: “fui viajar e esqueci o sapato”, “a insônia voltou a me atacar” e “estou na rodoviária esperando o busão para ir para São Paulo”, revelam a rotina de um balzaquiano que, apesar de ocupar o cargo hierárquico mais importante da administração pública da cidade, não se esquiva ao direito de viver como um “homem” (aspas sugestivas) normal. As postagens do “Twitter” dão conta dos compromissos de um jovem prefeito sempre requisitado em eventos culturais. Conheço a sua trajetória política e percebo o quanto tem se empenhado em honrar os compromissos firmados com o povo bauruense. A gestão Agostinho concedeu um abono salarial razoável aos servidores municipais. Convenhamos, irrisório ao que merecemos, ainda assim, maior que o oferecido pelo candidato do PSDB, caso eleito fosse.
Muitas são as especulações ao seu respeito. Como toda figura pública, tem a vida pessoal esquadrinhada. Ele lava o cabelo? Gosta de homem? Veste-se mal? I don’t know it! No “Twitter”, por exemplo, afirma que adora uma baladinha. E quem não gosta? É POP, o meu chefe... É a MADONNA de nosso microcosmo. “Like a virgin, touched for the very first time...”
Comprei O ALQUIMISTA do Paulo Coelho. Um site listou todos os equívocos de coesão da mais aclamada obra esóterica do escritor, que é considerado pela crítica especializada, um assassino em potencial da Língua Portuguesa. O artigo, fundamentado, revela as incongruências gramaticais do MAGO brasileiro. Paulo não admite que seus livros sejam revisados e se defende das acusações de que não domina simples conceitos gramaticais, alegando que a sua intenção é aproximar a linguagem literária ao modo de falar das pessoas. Se isso vier a tornar-se um modismo, como será a vida do profissional de Letras que, como eu, quer trabalhar como revisor em grandes editoras? Não tenho interesse no enredo do ALQUIMISTA, mas faço questão de localizar os seus “tropeços lingüísticos”. Embora saiba que todos estamos sujeitos a deslizes neste idioma que ainda é um enigma aos que sempre o trataram com desdém.
Recomendo que adquiram o livro de crônicas “A arte de reviver” do consagrado autor de novelas, Manoel Carlos. Todos os textos versam sobre a invisível beleza do cotidiano.
See you!
terça-feira, 8 de setembro de 2009
RAIO-X
HELLO, FRIENDS!
UM RÁPIDO RAIO-X
Quero agradecer à receptividade de todos os amigos que me prestigiaram nas últimas semanas, acompanhando a produção do conto “Confissão è beira do lago”. Descobri que o meu amor pela Literatura excede a leitura dos clássicos ditos “antigos” ou contemporâneos, perpassando os caminhos sinuosos da escrita.
Criar um universo paralelo à realidade é um exercício terapêutico, divertido, prazeroso, embora desgastante do ponto de vista emocional. Vide a atuação de “Bernardo”, que me consumiu deveras todo o vigor mental. Quis dar profundidade verossímil a sua personalidade, o que me obrigou a conjecturar sobre o seu malfadado namoro, a bissexualidade reprimida e os valores religiosos revelados no decorrer da narrativa. A posição de Kaike me pareceu mais confortável e o idealizei como um sujeito “boa praça”, honesto, bom caráter e disposto a perdoar.
Não é fácil capturar a atenção do leitor e manter o seu interesse pela história. Em várias passagens inseri estratagemas textuais como o SUSPENSE. O narrador teve postura neutra, mas eficiente ao relatar o que via. Perscrutou os pensamentos dos personagens e nos revelou segredos considerados inconfessáveis. Postei as páginas conforme as redigia e tornei o desenrolar da trama aberto às discussões dos amigos que se envolveram com o dilema dos protagonistas. O lago e a quietude de suas águas deram-me a privacidade necessária para a fundamentação do amor incontido de “Bernardo”.
Consegui a intertextualidade com o meu livro de cabeceira: O CAÇADOR DE PIPAS.
As idéias estão fervilhando em minha cabeça. Outro conto logo estará em fase de produção. Tenho fascínio pelos dilemas humanos.
I want to write forever....
Muito obrigado!
Vinícius Guimarães
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Confissão à beira do lago
** Quero agradecer aos amigos que prestigiam o blog e às palavras de incentivo que têm me deixado. Se me proponho a escrever sobre o amor, procuro enaltecê-lo em sua universalidade.
Confissão à beira do lago
Pág. 3 e 4
Sempre soubera não ser igual aos outros rapazes de sua idade. Admirava corpos masculinos e femininos com a mesma cobiça, o mesmo ardor que lhe subia pelas pernas e enrijecia o membro, a denunciar a excitação que tentava, em vão, disfarçar. Sufocava os próprios desejos ferrenhamente, pois sabia que o mundo poderia encarar a sua bissexualidade como uma anomalia. Senão o mundo, os seus pais, irmãos e amigos o veriam como pervertido, alguém com disfunções cerebrais ou um enfermo que precisava de tratamento. Não era doente, mas nascera conforme os desígnios de Deus, que para ele tinha uma missão. Era temente ao Senhor e pedia a sua ajuda nos momentos de incerteza. A religião era o seu refúgio, mas não fora capaz de amansar o seu coração e diminuir-lhe a ansiedade que sentia todas as vezes
Bernardo sempre fora o mais sensível. Tinha fascínio por literatura, música clássica e arte. O outro era íntimo da área de exatas, esportes radicais e dos embalos de sábado à noite. O sentimento que o ligava a Kaike também era fruto das pequenas diferenças existentes entre os dois. Eles se complementavam em suas necessidades, fraquezas e potencialidades. O amigo insistira para que namorasse Mari, pois dizia que a vida só teria sentido àqueles cujo coração fosse tomado de amor. Acreditava piamente que haviam sido talhados para ficarem juntos, pois os via como almas gêmeas, tantas eram as semelhanças entre o casal. Bernardo parecia resistir, mas como via a relação com Mariana como resposta aos que levantavam dúvidas sobre a sua virilidade, pediu a moça em namoro.
Conseguira sustentar a relação aos trancos e barrancos, assumindo o papel de algoz da namorada, incitando-a em várias ocasiões a colocar um ponto final no malfadado relacionamento. Ele a fizera sofrer. A moça sempre se debulhava em lágrimas, submissa, colocando de lado o seu amor próprio, anulando-se para que pudesse agradar ao namorado, que sempre se mostrava distante, frio e implicante.
A dor pungente sempre invocada em seus poemas favoritos arrebentava-lhe o coração. Revelar a verdade a Kaike seria um caminho sem volta. Sabia todas as implicações deste ato de coragem. O rapaz sempre deixara claro a sua orientação sexual, embora manifestasse respeito, compreensão e tolerância às ditas “causas homossexuais”. Era um conquistador por natureza. Desde a adolescência, atraíra os olhares femininos, incapazes de resistir ao seu charme, carisma e sedução. De uma beleza máscula irresistível, sempre estava acompanhado de lindas garotas, com as quais jogara abertamente: “não quero me envolver”, dizia ao final do primeiro encontro. Bernardo sabia que este medo de se entregar a uma nova relação era causado pela paciente espera do primeiro e, até o momento, único amor de Kaike: Raila. Quantas vezes Bernardo amaldiçoou esse nome, desejando que ela fosse engolida pelas entranhas da Terra e desaparecesse de suas vidas para todo o sempre. A única mulher capaz de enfeitiçar Kaike a ponto de fazê-lo colocar a forte amizade que os unia em segundo lugar. Todas as vezes que reclamara do excesso de atenção que o amigo dava à Raila, ouvira que os dois eram importantes, mas que ocupavam lugares distintos em seu coração. E foi assim durante todo o tempo em que o romance perdurou. Bernardo, no auge do ciúme, semeou pequenas intrigas para minar a felicidade daquela relação, mas o rancor apenas serviu para transformá-lo em alguém de sentimentos torpes.
Raila mudou-se com os pais para o Canadá. Ao despedir-se de Kaike, resolvera terminar a relação, pois sabia que o amor precisaria ser alimentado diariamente para manter-se vivo, assim como as rosas precisam ser regadas duas vezes ao dia para permanecerem belas, rijas e com o seu inconfundível perfume inebriante. Não queria pedir a Kaike que a esperasse, pois desconfiara de que ela própria seria incapaz de semelhante sacrifício. Era realista, por isso queria partir sem deixar vínculos, histórias mal resolvidas e a possibilidade de sofrer por enganar ou ser enganada pela ausência, tempo e distância que a manteriam longe do namorado por quem sempre fora completamente apaixonada.
** CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM.