domingo, 28 de junho de 2009

The Mamas & The Papas



BEAUTIFUL THING


Um filme gay sem apelação


Não é adornado pelas bonitas paisagens cinematográficas de "Brokeback". - Sim, assisti a esse filme! A trama é ambientada na periferia de Londres dos tempos modernos. A pobreza serve apenas como embaçado pano de fundo e parece pouco influir na evolução moral das personagens. O elenco prima pelas atuações irrepreensíveis. O enredo é sutil, verossímel e ousado.

"To be or not to be?" - that is the question!

É a partir da emblemática frase de "Hamlet", personagem fruto das maquinações de Shakespeare, que dou o start desta postagem!

Curiosamente, o texto que mais causou rebuliço no Blog foi "O travesti e eu".

As pessoas têm interesse na sexualidade alheia. Seja para tripudiar, entender ou, simplesmente, ACEITAR! Não compreendo os mecanismos cerebrais que fazem homens tornarem-se rascunhos de mulheres, embora respeite o direito que cada um tem de ser feliz à própria maneira. Visto que, o critério de seleção das pessoas que nos servem como amigos, deve ter o caráter como fator determinante. A orientação sexual é algo particular, intrínseco ao homem, e constitui-se UMA das centenas de outras facetas de seu universo interior.

O filme Beautiful Things conta a história de "Jamie", um adolescente da periferia de Londres, entediado com a própria vida e que sabe não ser igual aos outros rapazes de sua idade. Vale ressaltar que, apesar de sua homossexualidade, ele não é uma criatura serelepe, como muitas das que vejo passeando, trabalhando ou fazendo estripolias no Poupatempo. Os personagens gays fogem dos esteriótipos que sempre comprometem a identidade deste tipo de ficção.

Todo EMO é gay? Provavelmente não, mas nem todo hétero é o que diz ser!

Ao lado do apartamento de "Jamie", mora a razão de sua insônia, "Ste", um jovem que é vítima da violência covarde do próprio pai. "Sandra", a mãe de "Jamie" (que à primeira vista, pode dar a impressão de ser uma prostituta, mas não é) inconformada com a situação, pede ao menino que passe algumas noites junto dela e o filho.

Ele aceita de bom grado!

O roteiro é assaz inteligente! A aproximação entre os dois garotos é lenta, gradual e convincente. Emoção em dose certa! Não há o típico exagero dos melodramas! É possível observar uma abordagem honesta de descoberta da homossexualidade. Os ditos "normais" podem torcer o nariz para o filme que não choca, não fere e não mata! É uma pena que muitos sejam hipócritas, mal resolvidos e sintam a necessidade da auto-afirmação o tempo todo!

É preciso entender o outro. Caso isso não seja possível, aceite-o sem entendê-lo.

Os conflitos neste drama são inevitáveis! O casal é descoberto e toda a verdade vem à tona! A minha resenha termina exatamente no clímax. O desenlace é privilégio dos que assistem!

O que dizer a respeito da trilha sonora?

The Mamas & The Papas. It's amazing song...

Que professor eu seria, se não soubesse trabalhar a diversidade humana?

Que ser humano eu seria, se não soubesse respeitar as individualidades?

Toda forma de amar vale a pena.

Assistam ao filme!

quinta-feira, 25 de junho de 2009


Amigos

Comprei no sebo o livro "Não erre mais" de Luiz Antonio Sacconi. (15º edição, 1991).

Em ótimo estado de conservação.

Este livro me traz à memória as aulas da
Professora KUKA, que lecionava Língua Portuguesa na escola agudense "E. E. João Batista Ribeiro". Embora rabugenta, autoritária e intransigente, excelente profissional, que sempre me escolhia para representar a turma nos concursos de Literatura promovidos pela Nestlé. Bons tempos!

Recentemente, eu a descobri no ORKUT, mas como tratou com pouco caso o meu
scrap emocionado, não a adicionei. Ou ela me excluiu? Não sei... O fato é que não a tenho em minha lista de contatos.

A
KUKA sempre transcrevia uma lição do "Não erre mais" no canto da lousa. O livro discute o uso cotidiano do Português, dando enfoque aos equívocos mais comuns entre os falantes da língua.

Seguem abaixo 2 aperitivos:

Seje feliz!

Seje é forma que só sai da boca de iletrados, de semi-analfabetos, de pessoas sem a suficiente escolaridade. Por isso, caro leitor,
SEJA bastante feliz.
Certa feita ouvimos algo bem pior: advertia o pai à filha, de aproximadamente 12 anos: "Não seja malcriada!". A menina, além de tudo teimosa, foi muito mal educada: "
Sejo, sim!". Malcriadez dá nisso.


Esteje comigo sempre!

Esteje é outra forma que só cabe na boca de quem costuma comprometer-se a todo instante. Por isso, caro leitor, ESTEJA sempre comigo, que isso é que faz bem!...
O presente do subjuntivo do verbo estar é:
esteja, estejas, esteja, estejamos, estejais, estejam, assim como o do verbo ser é: seja, sejas, seja, sejamos, sejais, sejam.
E que Deus
esteja convosco!

(pág. 81 - Não erre mais)



Sempre colocarei algumas lições do livro aqui no BLOG!


"Só gosto de corrigir as pessoas inteligentes, que gostam de aprender; os burros ficam danados quando se descobre uma besteira deles".

Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Crises existenciais, Machado de Assis e José Saramago



No dia 24 de Agosto, completo 3 anos de serviços prestados à prefeitura de Bauru.


Hoje, já na triagem do Poupatempo, fiz download de um conto de Machado de Assis chamado Suje-se Gordo! Sei que não sou pago para me refestelar de literatura machadiana em horário de trabalho, mas o conto em questão, cujo teor está sob a inspiração do sábio ensinamento de
Jesus Cristo: "Não julgueis, para não serdes julgado", deu-me a oportunidade de ponderar sobre a inocência ou culpa das pessoas que submeto a um inconsciente julgamento. Defendo a idéia de que as engrenagens da inconsciência deixam de funcionar em algum momento da vida e as misérias humanas tornam-se frutos da lucidez.

Ultimamente, tenho observado certa bipolaridade em meu comportamento.

Comecei a ler "Anjos e Demônios", que traz o início da saga do Prof. de Simbologia de Harvard, Robert Langdon. A história é tão boa, que nem a algazarra das domésticas do "Prata" às 7:45, consegue me tirar das suntuosas igrejas da cidade do Vaticano. Posso emprestá-lo assim que terminar a leitura!

Mudando o rumo da prosa...

Ontem,
surfando na internet, encontrei uma entrevista do escritor português, José Saramago, concedida ao jornal argentino "Clarín". Saramago, afirma que, apesar da popularidade alcançada pelos blogs na internet, os ditos "blogueiros" estão escrevendo cada vez pior. O próprio escritor, que também escreve em espaço virtual, disse que dá às suas postagens o mesmo tratamento dedicado às páginas de seus romances. Entrei em alguns blogs de pessoas desconhecidas para ver o nível de produção textual dos pretensos escritores. O resultado será uma futura dissertação de mestrado, se Deus assim me permitir.

A concepção que tenho sobre um bom texto, não está relacionada apenas à estruturação correta das frases. Os erros gramaticais são obstáculos galgáveis. A sensibilidade ao lidar com as palavras, as boas idéias e o amor pela escrita é o cerne da questão.

Leitura
e escrita estabelecem entre si uma relação dialética.


domingo, 21 de junho de 2009

Operação ORKUT - Parte II


Os meus "amigos" do O. não se manisfestaram em relação à última postagem, o que me deixa à vontade para garimpar seus profiles again!. O. é um serviço de domínio público que une as pessoas com interesses afins. O poder de voto e veto é exercido nas comunidades, criadas para homenagear artistas da música, televisão, futebol, literatura e outras infindáveis vertentes do mundo moderno. O enfoque que darei às comunidades dos meus contatos de O. recae sobre as que revelam traços característicos de suas personalidades.

O bloco do eu sozinho - É um direito dele (a). A criatura esconde um segredo que a cidade de Agudos está calva de saber. Não é tão anti-social como quer aparentar, mas entendo o motivo de seus isolamentos momentâneos.

Madonna, volte a ser puta - Amiga dos tempos de Unesp. A comunidade está imbuída da luta contra o falso moralismo.

Odeio pessoas efusivas - Ela realmente parece odiar pessoas que exageram no tom de voz, indiscretas, que se sentem o centro das atenções. Não passei despercebido pelos seus olhos na virada de ano de 2007.

Faço Matemática + sou normal - Em seu caso, há controvérsias... e das grandes!

Metido não, distraída (o) - Sei. A impressão demorou a passar. Talvez ainda permaneça. Existem pessoas que são simpáticas no messenger, orkut ou e-mail. No 1º contato ao vivo, em cores, carne e osso, revelam frieza, amargura e imbecilidade.

A minha imaginação é foda! - Concordo. A fina flor do humor!

Eu amo os meus Apóstolos - Dizem que brasileiro não tem memória, mas cidade pequena salva em disco rígido (e faz backup). O passado nos condena! A igreja é a melhor saída, pois é um dos caminhos que levam a Deus. God bless you!

Uma dama, mas na hora H - A profissão mais velha do mundo! Não sei quem é a moçoila. É um dos poucos fakes que tenho adicionado no O.

Eis uma de minhas comunidades:

Já vomitei em lugar público - Na festa de aniversário de um amigo. Sala de estar, tapete e guardanapo.

Chega ao fim a segunda parte da "Operação - O.

Na terceira e última postagem, roubarei scraps dos meus contatos para exibi-los aqui no Blog.

POSTAGEM ESPECIAL - ENQUETE



"A música é o caminho mais curto para se chegar ao céu".

"When you try your best, but you don't succeed,
When you get what you want, but not what you need,
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse..."

Na jornada rumo à realização de nossos sonhos encontramos uma via de mão única. Não obstante, é preciso ser exímio motorista, pois é certo que alguém virá em sua contra-mão. O desvio habilidoso garante a continuidade do trajeto.

A colisão é o fim.

A música FIX YOU da banda COLDPLAY é um clamor à vida. Não é a toa que a ouço sempre que o meu coração está aflito. A canção tem efeito terapêutico. Age sobre a minha ansiedade, liberando hormônios que me causam prazer, tranquilidade e a sensação de que tudo está ao alcance de minhas mãos. Não sei se os sonhos perdem o prazo de validade, mas é certo que envelhecemos.

MAS E DAÍ?

Sabem o que aprendi com a música citada no início da postagem?

Enquanto o coração bater, o jogo não acabou!

Por trás da minha aparente segurança há o medo de falhar, não corresponder às expectativas, sucumbir frente aos medos inconfessáveis. Ora corajoso, otimista e disposto a lutar com uma faca entre os dentes. Ora vulnerável, covarde e influenciável. Descobri que não sou um bom estrategista, embora tenha consciência do poder de alcance de minhas palavras. Viver é um ato de coragem! É certo: quem quase morre esteja vivo, mas quem quase vive, há tempos já morreu.

Eis que o CAPITAL INICIAL me traduziu em versos.

"Quem é dono da verdade
Não é dono de ninguém
Só não se esqueça que atrás
Do veneno das palavras

Sobra só o desespero

De ver tudo mudar"

(Algum dia )

Houve um tempo em que não ouvia outra banda senão "Ira". A bendita dor pungente! Como hoje vibro em outra frequência, as canções cheias de tristeza, melancolia e saudosismo, já não surtem o mesmo efeito.

"Muita gente já ultrapassou
A linha entre o prazer e a dependência

E a loucura que faz

O cara dar um tiro na cabeça

Quando chegam além
E os pés não tocam mais no chão

Esse flerte é um flerte fatal
Esse flerte é um flerte fatal
"

Não sou crítico musical, mas reverencio as músicas que entoam a minha história.


sábado, 20 de junho de 2009

POSTAGEM ESPECIAL - ENQUETE



REFORMA ORTOGRÁFICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Apesar do fuzuê, zum zum zum e quiprocó causado pela reforma ortográfica da Língua Portuguesa, somente agora pude analisá-la em seus pormenores, nuances e facetas. Sintetizei as novas regras, embora a sua assimilação esteja condicionada ao emprego que faremos delas em nosso dia-a-da.

HÍFEN

Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"

TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados

ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)

ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"

ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"

ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem

GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"


domingo, 14 de junho de 2009

O R K U T - A vitrine das almas


Contabilizo 131 "amigos" no orkut. Quis deletá-lo, mas o bicho revelou ter vida própria! Então, para não perder o contato com as pessoas queridas que pouco vejo, resolvi poupá-lo e conceder-lhe mais algum tempo de vida. Sem delongas, digo que o propósito desta postagem é analisar a personalidade das criaturas que compõem a minha rede de contatos. Assumo, sou "orkuteiro" profissional, mas utilizo as funcionalidades do orkut como estratégia de sobrevivência neste mundo de egos exacerbados! E o que é este site de relacionamentos, senão uma vitrine de almas?

Tomei a liberdade de pinçar figuras do meu O. - OFICIAL (NÃO FAKE), para exemplificar determinados perfis psicológicos e observar como trabalham o velho clichê da publicidade chamado marketing pessoal". :)

"Sou um galho e vc?" É assim, de modo enigmático, sugestivo e metafórico, que uma colega dos tempos de Unesp, definiu-se em seu O. Acredito que seja pelo fato dos galhos conservarem os frutos, ramificarem-se e subirem em direção ao céu. Correndo o risco de parecer grosseiro, lembrei da piada que diz: "mulher feia é como ventania. Serve apenas para quebrar galhos". Não quero entrar no mérito da questão, pois o conceito de "belo" é assaz subjetivo. Imagine, ela não é feia! embora possamos chamá-la de ventos agradáveis de outono.

"Eu sou simplesmente eu mesmo!" O autor da frase é um amigo de infância. O conceito de si próprio parece simplista, sem originalidade, raso, mas de acordo com a discrição de alguém que não se pavoneia das qualidades que tem. É uma pena que tenha apostado pouco em seu potencial. Falta-lhe ambição, coragem e confiança. As fotos do O. sugerem que ele tem se divertido. Good Lucky!

"Eu ...pode ser que seja alguém, ou só mais um na multidão, depende de quem me vê!!!!" Ótimo! Palavras que denotam equilíbrio. Cheguei à conclusão de que gostava desta moça às vésperas da "Canção do Adeus".

Quem sou eu?: "Num interessa!!!" O dono deste O. é alguém avesso às regras, tem alma de palhaço e carisma contagiante. Mas não sei se é possível esconder-se todo o tempo atrás de um personagem.

"adj (lat abstractu) Demasiado obscuro, sutil, vago. Diz-se dos seres ou dos fatos imaginários, admitidos por suposição. Distraído, alheado. Idéia de uma qualidade ou propriedade que mentalmente se separa do ente ou substância a que ela é inerente. Aquilo que se considera existente apenas no domínio das idéias, sem base material". Eu o vi interpretando "Hamlet"! Transcreveu do dicionário um verbete que traduz a sua genialidade, difícil de ser compreendida.

"Falar sobre mim é muito complicado... então deixa pra lá..." Vejam! Pragmatismo puro!, como diria o meu professor de Antropologia.

"Sou feia, mas sou boazinha!". Mentira das grossas, folks! "Boazinha", essa filha da mãe nunca foi!

Leio atentamente o "profile" de todos os que estão adicionados em meu O. Mas o que dizer a respeito das comunidades? Assunto para outro post!


domingo, 7 de junho de 2009

I N FÃ N C I A de outrora


** Crônica escrita para a aula de "Leitura e Produção Textual" da Universidade Sagrado Coração - USC/ Bauru


- Saia desse computador! - grita a mãe, um fiasco na arte de intimidar. - Volte à mesa e termine o seu almoço.

- Me deixa em paz! - redargue o menino, exibindo exímia habilidade no manejo do jogo Counter-Strike (não recomendado para menores de 14 anos).

Congele a cena!

Voltemos dezesseis anos, num ponto qualquer da década de 90.

- Agora que já almoçou, faça o dever de casa! - ordena a mãe, em seu habitual tom peremptório.
Sozinho em seu quarto, o menino abre livros, cadernos e estojo.

Congele a cena!


As cenas acima ilustram peculiaridades da infância de gerações distintas. No 1º diálogo, temos uma criança de 8 anos, inteligente, indomável, manipuladora e que tem acesso às novas tecnologias. A mãe é permissiva. Sempre acaba lhe fazendo as vontades, embora saiba que os livros de psicopedagogia lhe conferem o direito de dizer "não" aos caprichos do filho desobediente. Isso me faz lembrar o quanto a minha mãe entendia sobre a teoria da "psicologia do chinelo". Sabia empregá-la com maestria se a situação assim o exigisse. Sempre que vejo algo inusitado na conturbada relação entre pais e filhos, disparo o clichê: "em meu tempo era diferente...". Além de me mostrar o quanto estou envelhecendo, revela que as transformações sofridas pelo mundo influenciam o olhar das crianças sobre a realidade que as cerca.

Nasci em meados da década de 80, mas tenho a ligeira sensação de que, naquela época, viver demandava bem menos esforço. O meu baú de recordações de infância está repleto de passagens que determinam os caminhos que escolhi durante o meu processo de amadurecimento. A imagem de rapaz pacato não condiz com o "capeta" que fui o que, de certa forma, tem a ver com o modelo de educação que recebi em casa, a relação de afeto que mantive com os meus pais e o prisma de inocência pelo qual enxergava o mundo.

Não quero que esta crônica se transforme num "picolé de chuchu", então tentarei traçar um divertido paralelo entre a minha infância e o que observo na vida e comportamento dos pimpolhos da geração 2000.

A Xuxa era jovem, viçosa, cheia de más intenções e comandava um programa que virou febre no final dos anos 80. A programação da TV Cultura era recheada de atrações educativas como RA-TIM-BUM, Glub- GLub e X-Tudo, e o impagáveis Chaves e Chapolin captavam a atenção da molecada. Os seriados japoneses como "Jaspion", "Lion Man" e "Changesman" faziam estrondoso sucesso com seus efeitos especiais toscos, cenários de papelão e histórias inimagináveis. "He-man", "She-Ra", "Caverna do Dragão" e tantos outros desenhos discutiam a moral dos homens. Quem não gostava de assistir aos filmes dos "Trapalhões" na sessão da tarde? Defendo a minha geração. Eramos bem servidos em relação à televisão. Hoje, crianças são incitadas à violência por animações que jorram sangue por toda a tela. Programas infantis baseiam sua programação em gincanas idiotas, sem cunho pedagógico e um dos maiores ícones infantis da atualidade é uma menina chamada "Maísa" que fala como gente grande e atrai a atenção pelo fato de desvendar o mundo adulto.

Sempre, antes de dormir, pedia a benção aos meus pais: - Bença, mãe! bença, pai! - O que equivale ao "boa noite!", mas carregado de respeito, devoção e consideração. Também dizia "Você não manda em mim!" em algumas situações, mas sempre acabava tomando um corretivo convincente. Hoje, há desrespeito, indiferença e gritaria na relação entre pais e filhos. Eles têm vergonha de andarem na rua de mãos dadas com a mãe. O "eu te amo" parece cair em desuso e diálogos saudáveis são escassos. Sempre quis ter brinquedos caros que via nas propagandas, mas compreendia que as necessidades básicas eram: pagar o aluguel, comer e vestir. O que vemos agora? Meninos e meninas tornando-se consumidores em potencial, que exigem e estão dispostos às mais terríveis chantagens para saciarem os seus desejos. Chinelo neles!

Brincar de "polícia e ladrão", "cabra- cega", e bolinha de gude, talvez sejam diversões ainda comuns, mas a era da internet logo fará com que tais passatempos desapareçam, para darem lugar a outras distrações que estimulam o individualismo, egocentrismo e solidão. Lembro da algazarra das brincadeiras de rua. O estreitamento dos laços de amizade, os costumeiros mergulhos no rio e as incessantes procuras pelos pés de manga, goiaba e jabuticaba. Os ultrapassados fliperamas do bar do "Baltazar". Quem nunca jogou "Street Fighter", "Double Dragon", e o fantástico "Mortal Kombat 1"? São peças de museu, mas populares entre crianças e jovens da época. O "plasytation 3" era um sonho distante, que tornou-se realidade, com gráficos perfeitos, realidade digital e jogabilidade surpreendente. Isso me faz pensar que determinados avanços tecnólogicos impedem as crianças de exercitarem a capacidade de imaginar.

Não havia o "Harry Potter", mas haviam as férias no sítio de Dona Benta. Li Monteiro Lobato, mas J. K. Rowling é símbolo da modernidade literária e não é tão ruim. Nos tempos em que frequentava o colégio, não via com tanta frequência o desrespeito com que são tratados os professores. Colocávamos os educadores em pedestais. Mas são outros tempos, valores, idéias, concepções. Às vésperas de me tornar um professor de Língua Portuguesa em exercício, desejaria ter como alunos aqueles estudantes da minha geração, que nutriam pela figura do docente um misto de temor, respeito e admiração.

Saudosa infância que não volta mais! :(