quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Confissão à beira do lago


** Quero agradecer aos amigos que prestigiam o blog e às palavras de incentivo que têm me deixado. Se me proponho a escrever sobre o amor, procuro enaltecê-lo em sua universalidade.

Confissão à beira do lago

Pág. 3 e 4



Sempre soubera não ser igual aos outros rapazes de sua idade. Admirava corpos masculinos e femininos com a mesma cobiça, o mesmo ardor que lhe subia pelas pernas e enrijecia o membro, a denunciar a excitação que tentava, em vão, disfarçar. Sufocava os próprios desejos ferrenhamente, pois sabia que o mundo poderia encarar a sua bissexualidade como uma anomalia. Senão o mundo, os seus pais, irmãos e amigos o veriam como pervertido, alguém com disfunções cerebrais ou um enfermo que precisava de tratamento. Não era doente, mas nascera conforme os desígnios de Deus, que para ele tinha uma missão. Era temente ao Senhor e pedia a sua ajuda nos momentos de incerteza. A religião era o seu refúgio, mas não fora capaz de amansar o seu coração e diminuir-lhe a ansiedade que sentia todas as vezes em que Kaike o abraçara , ou a libido nas alturas ao vislumbrar aquele corpo de porte atlético coberto pela toalha de banho, delineando as suas nádegas proeminentes.

Bernardo sempre fora o mais sensível. Tinha fascínio por literatura, música clássica e arte. O outro era íntimo da área de exatas, esportes radicais e dos embalos de sábado à noite. O sentimento que o ligava a Kaike também era fruto das pequenas diferenças existentes entre os dois. Eles se complementavam em suas necessidades, fraquezas e potencialidades. O amigo insistira para que namorasse Mari, pois dizia que a vida só teria sentido àqueles cujo coração fosse tomado de amor. Acreditava piamente que haviam sido talhados para ficarem juntos, pois os via como almas gêmeas, tantas eram as semelhanças entre o casal. Bernardo parecia resistir, mas como via a relação com Mariana como resposta aos que levantavam dúvidas sobre a sua virilidade, pediu a moça em namoro.

Conseguira sustentar a relação aos trancos e barrancos, assumindo o papel de algoz da namorada, incitando-a em várias ocasiões a colocar um ponto final no malfadado relacionamento. Ele a fizera sofrer. A moça sempre se debulhava em lágrimas, submissa, colocando de lado o seu amor próprio, anulando-se para que pudesse agradar ao namorado, que sempre se mostrava distante, frio e implicante.

A dor pungente sempre invocada em seus poemas favoritos arrebentava-lhe o coração. Revelar a verdade a Kaike seria um caminho sem volta. Sabia todas as implicações deste ato de coragem. O rapaz sempre deixara claro a sua orientação sexual, embora manifestasse respeito, compreensão e tolerância às ditas “causas homossexuais”. Era um conquistador por natureza. Desde a adolescência, atraíra os olhares femininos, incapazes de resistir ao seu charme, carisma e sedução. De uma beleza máscula irresistível, sempre estava acompanhado de lindas garotas, com as quais jogara abertamente: “não quero me envolver”, dizia ao final do primeiro encontro. Bernardo sabia que este medo de se entregar a uma nova relação era causado pela paciente espera do primeiro e, até o momento, único amor de Kaike: Raila. Quantas vezes Bernardo amaldiçoou esse nome, desejando que ela fosse engolida pelas entranhas da Terra e desaparecesse de suas vidas para todo o sempre. A única mulher capaz de enfeitiçar Kaike a ponto de fazê-lo colocar a forte amizade que os unia em segundo lugar. Todas as vezes que reclamara do excesso de atenção que o amigo dava à Raila, ouvira que os dois eram importantes, mas que ocupavam lugares distintos em seu coração. E foi assim durante todo o tempo em que o romance perdurou. Bernardo, no auge do ciúme, semeou pequenas intrigas para minar a felicidade daquela relação, mas o rancor apenas serviu para transformá-lo em alguém de sentimentos torpes.

Raila mudou-se com os pais para o Canadá. Ao despedir-se de Kaike, resolvera terminar a relação, pois sabia que o amor precisaria ser alimentado diariamente para manter-se vivo, assim como as rosas precisam ser regadas duas vezes ao dia para permanecerem belas, rijas e com o seu inconfundível perfume inebriante. Não queria pedir a Kaike que a esperasse, pois desconfiara de que ela própria seria incapaz de semelhante sacrifício. Era realista, por isso queria partir sem deixar vínculos, histórias mal resolvidas e a possibilidade de sofrer por enganar ou ser enganada pela ausência, tempo e distância que a manteriam longe do namorado por quem sempre fora completamente apaixonada.


** CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM.


domingo, 16 de agosto de 2009

C O N F I S S Ã O à beira do lago




Seguem as 2 primeiras páginas do conto CONFISSÃO À BEIRA DO LAGO

Resolvi abordar a homossexualidade de modo a fugir dos maniqueísmos que muitas obras de ficção caem ao retratar o assunto.


CONFISSÃO À BEIRA DO LAGO



pag. 1 e 2



Sentados em silêncio à beira do lago Pelegrino, dois amigos parecem absortos em pensamentos que rumam em direções opostas. Todavia, não desconfiam que o diálogo que lhes apresento agora, torná-los-ão seres humanos capazes de repensar a sua posição no mundo, vendo no modo como se relacionam com o outro, as sutilezas do amor em suas diferente nuances.

- Quero lhe dizer uma coisa – disse Bernardo. O coração a saltar-lhe à boca, olhos fitos no chão, o peito arfava.

As palavras lhe faltavam, impossibilitando-o de concatenar as idéias. Havia ensaiado aquele momento não uma, mas centenas de vezes. E agora a coragem resolvera abandoná-lo. O medo o assaltara, como se pressentisse a rejeição, o escárnio, a frieza revestida de incompreensão.

- O que é? – indagou Kaike, alheio ao visível nervosismo do amigo. Certamente, confessaria estar de caso com alguma das garotas que sempre o assediavam nas festinhas da faculdade. Bernardo sempre mantivera distância deste assédio, resistia com galhardia às investidas das meninas que por ele se interessavam. Bebia a sua cerveja, conversava com os colegas, dançava timidamente, observava com atenção o barulhento jogo de truco dos amigos. E sempre que Kaike lhe trazia o recado de uma moçoila, desconversava, dizendo que ainda tinha esperanças de reatar o namoro com Mariana. Envolver-se com alguém poderia dificultar a situação, já que tinham amigos em comum e não tardaria até a ex-namorada saber que não respeitara o recente fim do relacionamento. Isso soara convincente aos ouvidos de Kaike, que sabia que o amigo tornara-se um romântico incorrigível, avesso à promiscuidade dos jovens de sua idade e um eterno apaixonado por Mariana, amiga de infância de ambos.

- Se não contei antes, foi por medo. – iniciou Bernardo, a respiração ofegante. – Não por onde começar.

- Faça o seguinte... – redargüiu Kaike, estranhando a tensão na voz de Bernardo – comece pelo início. Não se preocupe, acho que sei o que tanto o preocupa. Ainda assim, prefiro que desabafe e tire o peso que carrega sobre as costas ou que, pelo menos, queira compartilhá-lo comigo.

O universo conspira ao meu favor – pensou Bernardo, o coração tomado pela esperança. Sensação que o deixou mais leve, pois pressupunha que o amigo sabia da angústia que lhe invadia a alma e não lhe tinha ojeriza, não o julgava ou sustentava qualquer tipo de preconceito. Kaike, o amigo que sempre o defendera de seus desafetos, companhia inseparável que com ele dividira o fruto das descobertas da puberdade, o primeiro amor, as inseguranças, os medos, as alegrias e frustrações de toda uma vida. Confidenciavam segredos íntimos que estreitavam as relações de confiança, respeito e afeto. A amizade seria incondicional se Bernardo não omitisse o fato de que estava perdidamente apaixonado pelo amigo. Kaike tornara-se a razão de sua insônia, seu objeto de desejo e o motivo pelo qual havia terminado o namoro de dois anos e sete meses com Mariana de Oliveira. Martelava em sua memória o dia em que colocara um ponto final em sua relação com Mari. Ela chorava, pedindo a ele que lhe dissesse o que havia feito, prometendo que se policiaria em relação ao ciúme que, às vezes, ultrapassava o limite do aceitável e implorando para que lhe desse uma segunda chance. Pensou que qualquer homem se sentiria orgulhoso em ostentar aquele esplendor de mulher ao seu lado, com os seus lindos olhos azuis, os cabelos que reluziam como ouro de tão louros, a boca vermelha de lábios carnudos, o corpo perfeito de mulher que sabe o poder que exerce sobre os homens. Mas apesar da atração que lhe despertava, e no sexo entendiam-se bem, não conseguira apaixonar-se por ela, que sempre fora tão doce, companheira, amiga. Pois era assim que sempre a vira, como a sua melhor amiga. Gostavam das mesmas músicas, assistiam aos mesmos filmes, liam os mesmos livros, passavam horas conversando sobre os mais variados assuntos, mas devotavam um ao outro sentimentos de nuances diferentes.

Mariana o amava com sofreguidão, fazia-lhe todas as vontades e exercitava o dom da paciência suportando o seu humor bipolar. Bernardo sempre parecia insatisfeito com alguma coisa. Ele a magoava sem razão aparente, logo se arrependia e lhe pedia perdão. E a culpava pelo maior infortúnio de sua vida: o fato de não poder gritar ao mundo a louca paixão que nutria pelo seu melhor amigo, Kaike. O sentimento corroía-lhe a alma, escravizava os seus sentidos, manifestava-se através de seus poros, invadia-o a ponto de mantê-lo resistente a qualquer remota possibilidade de amar Mariana ou quem quer que fosse. Amava Kaike resignadamente, pouco fazendo para se libertar deste amor não correspondido. Colocara-o num pedestal. Era um amor impossível, inalcançável, platônico, sagrado e profano. Os versos camonianos diriam que se tratava de uma dor que desatinava sem doer, mas causara-lhe feridas, mágoa e a noção exata daquilo a que chamavam infelicidade. Esse sentimento que lhe roubava o tempo que precisava dedicar aos estudos, à família e à diversão. Que lhe tirava a concentração, afetava-lhe o humor e, por vezes, a vontade de viver.



** CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM.


De Jane Austen ao CREPÚSCULO



What's up, friends?

Acabei de chegar das Lojas Americanas. Fui atrás de um DVD. Não precisava de um título específico, mas um filme cuja história se passasse na Inglaterra do séc. XVI ou XVII e que revelasse algo do contexto social e político da época.

Eu me lembrei de "Shakespeare in love", mas ele seria a minha última opção, caso não encontrasse algo mais interessante. Eis que,
por acaso, pego nas mãos "Elizabeth". A maior parte dos filmes custavam R$12.99, justamente este que não havia tido tanto apelo junto ao grande público, mas que era exatemente o que precisava, custava R$19.99, é mole?

Poderia baixá-lo da internet, mas vou utilizá-lo na aula de Literatura Inglesa, por essa razão achei conveniente comprá-lo.

Apenas R$25.00 na carteira.

Passei os olhos pelos livros, decidido a não comprar mais nada e poder economizar para os gastos da semana. Todo o meu esforço fora em vão. Não resisti e acabei comprando O CREPÚSCULO (Stephenie Meyer) pela bagatela de R$24.99. Prometi que iria deixar os best-sellers contemporâneos de lado e me dedicar exclusivamente aos clássicos sugeridos pela faculdade. Embora o tenha comprado justamente para lê-lo nas férias de outubro.


Como havia dito na última postagem, estou lendo "Orgulho e Preconceito" da escritora inglesa Jane Austen e recomendo por ser uma história de personagens bem construídos, cuja trama revela o esquema de casamentos arranjados dos ingleses do séc. XVIII e outras características sociais, políticas e econômicas da época.

CREPÚSCULO vai para a estante.

Os vampiros terão que esperar.



sábado, 15 de agosto de 2009

USC


Olá, amigos!

As aulas começaram na última segunda-feira, contrariando a vontade dos indolentes que torciam pelo retorno apenas em Setembro. Oportunistas de meia pataca! Se as faculdades "enxugam" o calendário dos dias letivos, quem acaba sendo prejudicado é o aluno, que verá reduzida a sua carga horária. A USC realizou ajustes em seu cronograma, visto que a sua margem de lucro poderia estar comprometida com todo o rebuliço causado pelo Influenza.

Queria escrever regularmente, mas a falta de tempo me obriga a estabelecer prioridades.

Comecei a ler ORGULHO E PRECONCEITO da escritora Jane Austen. O livro é uma das leituras obrigatórias de Literatura Inglesa. Será realizado um trabalho sobre esta obra que retrata os costumes ingleses do séc. XVIII. Regendo a disciplina está a professora Valéria Biondo.


O curso de Letras da USC é um prato cheio para quem é aficcionado por Literatura Brasileira, Americana, Espanhola, Inglesa e Latina, pois tem professores gabaritados, um fantástico acervo bibliográfico e plataforma de estudos que dinamizam o conhecimento.

Descobri que o meu inglês está enferrujado. Quase dois meses sem baixar as minhas séries americanas favoritas. O jeito é rever a primeira temporada de Friends! Comprei um livro chamado "Fale tudo em Inglês" (Editora Disal), mas ainda não pude explorá-lo com afinco. Acompanha um CD com vários diálogos cotidianos que tratam dos mais variados assuntos.

Segue um pequeno trecho do CONTO proibído que está em fase de revisão. Quero postá-lo em breve, assim que as férias de outubro tornarem-se realidade. Dar asas à imaginação é realizar uma leitura do mundo e de si próprio.

"Bernardo comemorou a notícia da viagem de Raila como se houvera ganhado na loteria. Atribuiu o acontecimento à vontade divina e naquela semana foi à igreja agradecer ao Criador a benção que lhe se afigurava diante dos olhos".

See you soon!


segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Aniversário do Mundo das Letras


O Blog Mundo das Letras está completando 01 (um) ano no ar. Quero agradecer aos amigos que prestigiam às postagens, lendo, comentando ou dando aquela espiadinha sem compromisso. A idéia surgiu despretensiosamente, tomando corpo à medida que resolvi compartilhar as minhas impressões sobre livros, filmes, notícias do Brasil e do mundo, vida pessoal, trabalho, faculdade e outras discussões de igual relevância. É um projeto que, felizmente, saiu do campo das idéias, tornando-se um canal aberto para diálogos interpessoais e intrapessoal.

Segue um curto trecho de um conto de minha autoria que brevemente será blogado neste espaço.

8/ "Pensou que qualquer homem se sentiria orgulhoso em ostentar aquele esplendor de mulher ao seu lado, com os seus lindos olhos azuis, os cabelos que reluziam como ouro de tão louros, a boca vermelha de lábios carnudos, o corpo perfeito de mulher que sabe o poder que exerce sobre os homens. Mas apesar da atração que lhe despertava, e no sexo entendiam-se bem, não conseguira apaixonar-se por ela, que sempre fora tão doce, companheira, amiga."

"O sentimento corroia-lhe a alma, escravizava os seus sentidos, manifestava-se através de seus poros, invadia-o a ponto de mantê-lo resistente a qualquer remota possibilidade de amar Mariana ou quem quer que fosse."

Escrever ficção é uma tarefa árdua, pois exige total desprendimento de valores, pudores e arguta imaginação. Dominar as técnicas de escrita torna-se insuficiente, se por trás da forma, o conteúdo não tiver êxito na missão de ser um catalisador de emoções.


Vinícius Guimarães