** (Crônica escrita para a aula de Aprimoramento de Leitura e Produção textual, ministrada pela professora Cinthia, docente da Universidade Sagrado Coração)
O Brasil não é um país de leitores. Isso é corroborado em pesquisas, estatísticas e rankings internacionais, nos quais os alunos brasileiros amargam os últimos lugares nas habilidades de escrita e interpretação de texto. Sim, têm dificuldade em redigir frases coesas e coerentes ou explicar em pormenores o que se esconde nas entrelinhas de um trecho literário.
As mazelas sociais de um povo também são causadas pelo descaso com que tratam os livros. Graciliano Ramos, José de Alencar ou Érico Veríssimo não são populares e até caem em ostracismo se comparados às estrelas do futebol nacional, artistas de televisão ou celebridades instantâneas. Ninguém se apiedou do sofrimento da personagem "Ana Terra", que perdeu o homem que amava, foi estuprada e viu a família ser brutalmente assassinada na região Sul do país, mas se comoveram ao ver Romário levantar a taça na conquista da Copa do Mundo de 94. Todos sabem quem matou "Odete Roitman", embora não tenham tomado conhecimento de que a seca no nordeste quase deu cabo de Fabiano no romance "Vidas Secas". Acompanharam o casamento de "Angélica e Luciano Huck", mas nem desconfiam que a história de amor entre Peri e Ceci em "O guarani" é mais intensa, poética e sublime. A resistência à leitura também pode fazer com que o homem perca a capacidade de se emocionar.
Vasculhando o meu baú de memórias, encontrei passagens que revelam as minhas experiências com a literatura. Certa vez, fui taxado de gay pelos colegas de ensino médio por estar lendo "Olhai os lírios do campo", do escritor Érico Veríssimo. Sugestão de leitura que me foi dada pelo Professor de Português. Apesar de escrito na década de 30, o romance é atemporal, pois discute temáticas como amor, ambição social e traição. Não dei ouvidos às provocações, mas passei a tratar questões literárias com mais reserva. Em outra ocasião, peguei na biblioteca municipal de Agudos "O livro dos Espíritos" de Allan Kardec. Cometi um equívoco ao deixá-lo sobre a cabeceira de minha cama, pois minha mãe, ao encontrá-lo, discursou sobre as passagens da bíblia que atribuem ao demônio qualquer tentativa dos espíritos de se comunicarem neste plano. Suas censuras dispertaram ainda mais a minha curiosidade e hoje consigo enxergar Deus com um olhar mais ecumênico, pois acredito que em cada religião há princípios universais de sabedoria, capazes de nos tornarem pessoas otimistas, generosas e tolerantes.
O tipo de relação que estabelecemos com os livros que lemos, determina a nossa visão de mundo. A maior parte dos homens está enclausurada na ignorância, pelo fato de resistirem à ideia de que ler expande os horizontes que cada um tem diante de si. Optei pela licenciatura por acreditar que nada confere mais responsabilidade social do que a arte de ensinar, e Letras por ser apaixonado pela gramática da língua portuguesa, literatura e as palavras carregadas de significado. O amor pela leitura nasce em qualquer idade, mas é preciso estimular os novos leitores que ainda não têm o costume, já que o ato de ler exige concentração, dedicação e envolvimento da alma.