Eu já fui Monteiro Lobato!
É verdade, minha gente!
Na semana pedagógica da Unesp, organizada pelo Depto. de Educação em 2005. O meu grupo optou pelo universo do "Sítio do Pica Pau Amarelo", como tema de apresentação. Fiquei responsável pelo levantamento biográfico de Monteiro Lobato e acabei garimpando interessantes particularidades da vida deste magistral escritor. Sabiam que Lobato não foi um bom aluno na disciplina de Língua Portuguesa, chegando a ser reprovado no colégio? Que tem vasto material bibliográfico escrito ao público adulto e que nasceu na cidade de Taubaté?
Mostrei animadamente ao grupo todos os dados de minha pesquisa, satisfeito por ter cumprido a minha missão dentro do prazo estabelecido. Até que uma "criatura abençoada", para não dizer outra coisa (não sei se a Solange, Ana Maria ou Camila) sugeriu que apresentássemos o trabalho no anfiteatro, com todas as turmas do curso de Pedagogia e o corpo docente do Depto de Educação, caracterizados de personagens do Sítio. A idéia foi prontamente aprovada pelos demais integrantes. "Ai, meus Deus do Céu! - pensei eu, o coração batendo descompassadamente - Será que vão me pedir para colocar a indecente tanguinha do Saci-Pererê?
Odeio o Saci.
É um personagem que caracteriza o negro como um ser instintivamente ruim!
Chegamos à conclusão de que a Marília seria uma ótima "Emília", não só pelo fato de ser a mais baixinha do grupo, mas também por ter a expressão angelical, que constrastava com a personalidade indagadora da personagem. Ela aceitou alegremente o desafio, dizendo que poderia confeccionar a roupa, peruca e demais acessórios para compor a boneca de pano, que na história é costurada pela tia "Anastácia". Ah! Pois então, por um instante, imaginei que fossem me travestir de cozinheira do sítio. Nada contra a "Anastacia", mas, geeeeente... seria ridículo! Ela é negra, eu, idem, mas as nossas afinidades acabam aí!
Mas o que haviam me reservado era algo bem mais desconcertante.
Enxergaram neste humilde blogueiro a imagem de Monteiro Lobato, principalmente pelo fato de eu ter sobrancelhas grossas, assim como ele. A diferença étnica seria disfarçada pela maquiagem. A caracterização ficaria por minha conta e risco. Não concordei de imediato, mas a incessante argumentação do grupo tolheu toda a minha resistência. Ser o centro das atenções? Sim, eu queria muuuuuuuito aquilo! hahahaha!
Levei bastante tempo para me acostumar à idéia, mas passei a tratar cuidadosamente da composição do papel que me cabia daquele espetáculo. Eu, Monteiro Lobato?
Consegui as roupas, gravata, bigode postiço e um anel de magistrado!
O dia da apresentação.
Passaram pó de arroz em meu rosto, uniram com lápis preto as minhas sobrancelhas e colaram o bigode. E não é que fiquei à cara do homem? Todos, boquiabertos com a transformação. Só não aceitei tirar os óculos, pois me sentiria inseguro sem eles. De repente, começou a chover forte, um toró daqueles! Lembro que oramos de mãos dadas, um bonito gesto para pedir serenidade a Deus antes de entrar em cena. Subi ao palco tendo a sensação de que iria desmaiar, mas a reação do público acabou por me dar forças. Os risos não eram de gozação, mas de satisfação, pois havíamos realizado um excelente trabalho. Apresentei a teoria, que falava da importância do "Sítio do Pica Pau Amarelo" na infância, como elemento propiciador da aprendizagem. A Marília saiu-se muito bem como "Emília", assim como a Aline, que surgiu como a mesma personagem para criar o conflito entre as bonecas sabichonas.
Cada um dos integrantes do grupo expôs os seus tópicos da apresentação.
Monteiro Lobato apareceria novamente em cena para colocar um ponto final na discussão das matracas de pano. Eis que me coloquei entre as duas, mas ao subir os degraus, escorreguei, e por pouco não caio. A platéia foi à loucura! Começaram as incontroláveis gargalhadas, inclusive por parte dos professores! Eu estava me sentindo à vontade em cena, tirei de letra!
FIM DA APRESENTAÇÃO!
Fomos aplaudidos em pé, elogiados pelos docentes e colegas de todas as turmas do curso de Pedagogia. Atribuíram nota máxima à apresentação. Assim, tive o meu dia de LOBATO... INESQUECÍVEL!
** (dedico este texto aos meus amigos: Roger, Solange, Camila, Marília, Carina, Miriam, Ana Maria, Aline e à professora Daniela Melaré)