sexta-feira, 25 de junho de 2010

VINGANÇA: UM PRATO QUE SE COME FRIO, QUENTE, TEMPERADO, MAS SEM SALSINHA, POR FAVOR!


A VINGANÇA

O marido, com sangue nos olhos, desferiu-lhe uma bofetada que a fez mastigar os dentes. Em seguida puxou-lhe os cabelos, até que saíssem aos tufos. Deu-lhe tantos socos, pontapés e empurrões contra a parede, que se sentiu exausto. Maria Mercedes não derramou uma lágrima. Estirada ao chão, parecia conformada com a costumeira violência do homem pelo qual um dia havia se apaixonado.

DIAS DEPOIS...

A autópsia revelara que Eliseu fora envenenado com uma substância utilizada para matar ratos.


VINGAR
verbo transitivo
1. tirar vingança de; desforrar-se de; punir; desafrontar
2. promover a reparação de; reabilitar
3. chegar a; atingir
4. defender; libertar; salvar
5. vencer; conseguir
6. subir
verbo intransitivo
1. conseguir o seu fim; ter bom êxito; vencer
2. galgar
3. chegar à maturidade
4. não morrer
verbo pronominal
desforrar-se
(Do lat. vindicáre, «id.»)





VINGANÇA: UM PRATO QUE SE COME FRIO, QUENTE, TEMPERADO, MAS SEM SALSINHA, POR FAVOR!

(Vinicius Gustavo P. Guimarães)


Para compor o tópico frasal desta postagem, busquei inspiração no célebre escritor “Alexandre Dumas”, que soube como ninguém criar um romance instigante, envolvente e atemporal, intitulado O CONDE DE MONTE CRISTO. Indiscutivelmente, uma pomposa obra literária de clamor à vingança. Tenho fascínio pelos justiceiros da literatura. Depois de passarem por toda a ordem de adversidades, vilipendiados pelos cruéis vilões, que os humilham, maltratam e os reduzem a pó, vão à forra, sedentos pelo desejo de reparação. É hora do acerto de contas. Abandonam a pusilanimidade, o altruísmo exacerbado e a apatia, passando ao irrefreável instinto de revidar. Antes de tornar-se Monte Cristo, Edmond Dantes é traído por aqueles a quem tinha como amigos. Vai para a cadeia, condenado à prisão perpétua por um crime que nunca cometera. Revolta-se com a vida, procurando respostas que possam explicar as sucessivas tragédias que se abatem sobre ele. Em pouco tempo, descobre que fora vítima de um plano diabolicamente orquestrado pelos próprios amigos para destruí-lo. É o clássico da Literatura Universal que recomendo àqueles que são navegantes de primeira viagem nos mares da leitura.

Recorri a Monte Cristo para ilustrar este texto. É evidente que no desfecho da história o personagem sentiu-se frustrado, pois o ódio que o movia na luta por justiça, acabou por enclausurá-lo dentro da própria solidão. Deixando os caminhos sinuosos da ficção e transpondo o eixo da questão à realidade, indago: a vingança pode realmente exorcizar a frustração causada pelas (in) justiças?

É preciso refletir sobre essa problemática. Vamos partir do princípio de que a “vendeta” origina-se do orgulho ferido. Diariamente, lemos nos jornais notícias que relatam crimes passionais hediondos, cometidos por criaturas aparentemente normais. A rejeição é a mola propulsora da vingança, visto que o amor suscita nas pessoas o que de melhor e pior elas têm a oferecer. O fim de um relacionamento amoroso, por exemplo, pode despertar a ira daqueles que não tem estrutura emocional para entender que o ser humano pode usufruir do seu direito de amar, embora consciente de que não há lei que obrigue o objeto desse amor a devotar o mesmo sentimento. E a indignação se manifesta em atos irrefletidos: para lavarmos a alma, precisamos infligir um castigo que desperte no outro a mesma dor. Li recentemente “Senhora” do José de Alencar (leitura obrigatória do curso de Letras da USC – Literatura Brasileira). A personagem “Aurélia” encaixa-se perfeitamente no arquétipo da “vítima” que pensa ter o direito de exigir justiça pelo mal causado por aquele a quem entregara seu coração. “Fernando” a abandonou para casar-se com outra, pois almejava dinheiro, poder e prestígio social. Quis o destino que a doce, pobre e virginal “Aurélia” repentinamente herdasse uma grande fortuna do avô que lhe era desconhecido. O desejo de vingança operou na personagem drástica mudança de personalidade. O dinheiro conferiu-lhe rancor, arrogância e sangue-frio. Não foram poucas as humilhações impostas ao homem que veio a tornar-se seu marido. Mas a dor causada àquele que jurava odiar, desdobrava-se nela com maior intensidade, pois “Fernando” suportara a todos os suplícios com tamanha resignação, que acabara por redimir-se.

Queria ser imparcial ao redigir o texto e não imprimir a essas linhas as minhas experiências. É impossível, tendo em vista que para dissertar sobre a vingança, como faceta do amor, não recorro a “Sigmund Freud”, e sim à literatura. E falo com conhecimento de causa, pois atire a primeira pedra quem nunca colocou a capa da justiça e tentou em vão causar em outrem o mesmo mal do qual fora vítima. “Dar o troco” propicia satisfação pessoal, mas é uma sensação fugaz, que tira o brilhantismo da capacidade de reação que todos nós temos. Dê aos que não gostam de você a INDIFERENÇA. Não há recurso mais elegante. Canalize o ódio causado pelas intempéries da vida para a vontade de aprender, conhecer, vislumbrar novos horizontes.

Até breve!





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